quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Caminho do Racismo para o Brasil II

E, por falar em RACISMO...DISCRIMINAÇÃO...
categorias: A Escravidão no Brasil

Quanto à escravidão do negro, tanto no Brasil como nas demais colônias ibéricas, houve pouco debate e/ou ações que visassem romper com seu cativeiro. Esse foi, para os historiadores oficiais, um limite típico do período histórico, claramente perceptível no silêncio dos jesuítas.

Rubert (1981, p. 290) menciona que mesmo os jesuítas foram pouco críticos em relação aos escravos africanos, chegando a possuí-los em quantidade suficiente para "tocar suas obras".

“Parecia a todos uma mercadoria lícita! Os escrúpulos porventura existentes quanto à servidão dos índios, desapareciam com a servidão dos pretos...Nem os jesuítas tinham escrúpulos de possuí-los.

Nóbrega, escrevendo ao provincial de Portugal, dizia: 'A melhor coisa que se podia dar a este Colégio seria duas dúzias de escravos'.

Vainfas – que, enquanto historiador, assume uma postura diametralmente oposta a de Rubert – acusa abertamente a Igreja de afirmar ideologicamente a necessidade de escravizar o negro, para assim, poder salvá-lo de si mesmo.

Desta forma a descoberta e conquista das Índias foi julgada entrar nos planos de Deus, e foi mesmo considerada o maior acontecimento da história da "salvação", após a criação do mundo e a encarnação de Jesus Cristo”. (Hoornaert, 1982/1997, p. 65)

A Igreja, enquanto instituição, não visualizava outro modo de ampliar a fé católica e, nesse sentido, compactuava com o processo de conquista e com boa parte de suas conseqüências sobre os povos submetidos.

Muito rapidamente se desfez a idéia, de que havia encontrado o paraíso e as relações com os nativos assumiram sua real feição de dominação e sujeição, inclusive religiosa.

Segundo Azzi: “À medida, porém, que o nativo procurou resistir à invasão e usurpação de suas terras por parte dos colonizadores, começou a ser visto como inimigo da fé, impedindo a expansão do reino de Deus. Como adversário da cristandade, devia ser combatido e morto”.(Azzi, p. 189)

Morrer resistindo ou se converter e tornar escravo. Não existiam espaços de diálogo e/ou encontro com o diferente, o que, na prática, resultou em genocídio indígena e, posteriormente, africano

”Para Anchieta, o mundo indígena, que ele encontra, é o mundo da ‘desgraça’. O Deus-Tupã com seu clã de anjos, santos e missionários combate nos autos anchietanos o clã do Demônio-Anhángua com seus espíritos malignos, pajés/feiticeiros e índios não-convertidos.

É preciso ‘vencer o diabo, mundo e carne, que continuamente contra nós pelejam e trabalham por nos vencer’, exorta o missionário no ‘Sermão da Conversão de S. Paulo.” (Suess, 1997, P. 520)

Hoornaert aponta de modo explicito a relação existente entre estruturas de Igreja e estruturas do Estado português, enquanto participantes do empreendimento escravagista. Para este autor, a Igreja está diretamente envolvida: ela legitima a escravidão através do modo como concebe o batismo dos africanos e fecha os olhos às atrocidades cometidas, desde o apresamento até a chegada desses homens e mulheres à América.

Hoornaert afirma categoricamente: “O sistema sacramental funcionava, também, como regulador e legitimador da situação de escravidão: antes de embarcar para o Brasil os negros comprados tinham que ser batizados logo depois do pagamento do quinto real. O batismo fazia parte das formalidades do tráfico negreiro.

Quanto ao casamento, não se hesitou em desfazer os laços conjugais contraídos na África e de condenar os escravos a uma vida de solteiro no Brasil.

O papa Gregório XIII decretou, em 1585, que os casamentos africanos podiam ser desfeitos...legitimando desta forma o tráfico negreiro...o escravo não encontrou na Igreja nem apoio, nem defesa. Ele teve que lutar só...

Nenhum comentário:

Postar um comentário